Blog do Digão


The end
17/10/2013, 4:11 pm
Filed under: Genizah Virtual, geral, igreja, Pastorado de verdade, Ultimato, vida de gado

the-endTudo na vida acaba. Coisas boas, coisas ruins. Até a vida acaba. E este blog acabou. A gente se vê por aí.



Não sou vencedor
23/08/2011, 1:57 pm
Filed under: Genizah Virtual, igreja, Pastorado de verdade, Ultimato

Descobri que não sou um vencedor. A igreja evangélica, ultimamente, vem batendo incessantemente nesta tecla: se você é crente, é obrigatoriamente um vencedor. Será?

Bom, tive algumas vitórias bem rumorosas, outras discretas. A algumas, credito a Deus; a outras, ao meu esforço, capacidade e empenho próprios. Também tive alguns fracassos retumbantes, e outros silenciosos. A alguns, credito ao mal externo (o diabo e o mundo); a outros, ao meu mal interno (minha carne e minha inabilidade).

Isso faz de mim uma pessoa comum. E é isso que a igreja evangélica, com todo o seu discurso triunfalista, quer mascarar, esconder. Quer criar, a todo custo, um exército de pessoas de bem com a vida, sem dores ou sofrimentos, usufruindo toda a alegria do céu aqui e agora. Deixaram todo e qualquer traço de epicurismo (ou mesmo estoicismo) para trás e abraçam, sem nenhuma restrição, o corpo moreno, suado e sexy do hedonismo. Aliás, essa mania de querer perseguir a felicidade e todo custo tem formado uma geração de gente estupidificada, alienada, egocêntrica e insensível. Somos um simples reflexo de nossa sociedade doente.

Quando vemos a Bíblia, não encontramos nela nenhum traço daquilo que é apregoado hoje em dia. Os vencedores que a Bíblia retrata em Hb 11 são pessoas comuns, usadas por Deus, mas que passaram tremendas angústias, ou tiveram até mesmo mortes violentas. O profeta Isaías teve seu corpo serrado ao meio; Tiago morreu no fio da espada; Paulo foi decapitado; Pedro, segundo nos conta a tradição, crucificado de cabeça para baixo. Isso sem falar de Jesus que, por desafiar todo o sistema religioso putrefato de Seu tempo, foi pendurado na cruz, morte abjeta àqueles dias. Isso nos demonstra que todos aqueles que ousam desafiar o sistema religioso putrefato de nosso tempo também terão destino semelhante.

Sim, Jesus disse que passaríamos por aflições no mundo. Mas também disse que Ele venceu, não nós, e Sua vitória sobre o mundo foi a execução de seu propósito em Sua morte. Sim, a Bíblia afirma que somos mais que vencedores. Mas o contexto de Rm 8 não me autoriza a ser irresponsável e a apregoar um estilo de vida róseo. Em todas estas coisas, diz Paulo, somos mais que vencedores em Jesus. E que coisas são essas? Trata-se do mesmo argumento de Jesus, ou seja, a vitória sobre o mundo não é um carrão na garagem e uma vida livre de problemas, mas a nossa fé (1Jo 5.4). Permanecer fiel, mesmo debaixo de uma saraivada de balas por todos os lados, mesmo depois que “companheiros de jornada” te abandonam, é uma vitória, e daquelas bem sobrenaturais.

Portanto, da próxima vez que resolver ouvir um daqueles mantras pegajosos que exaltem incessantemente o seu ego e que se esquecem de mencionar o Filho, pense em Jesus morrendo como um bandido, no profeta Oséias se casando com uma prostituta, em Jeremias perseguido por Pasur e jogado em uma cisterna. Mas, principalmente, pense como apostatamos de modo ruidoso e contínuo da simplicidade do Crucificado, indo atrás da doce mensagem de Baal apregoada por pastores-vendedores-popstars da moda. Caso não sinta nenhum arrependimento ou tristeza com isto, é sinal que Javé não faz mais diferença, e Baal é sua nova realidade.



Sequidão
18/10/2010, 12:16 pm
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O ar anda muito seco. Aqui em Rondônia a coisa está virando calamidade. Quando se anda na rua, a garganta seca, mesmo você ficando de boca fechada. Os olhos ardem, a garganta arranha. O clima está nublado há dias, e é por causa da poeira suspensa. De noite, fica uma neblina que te impede de enxergar mais longe. E é neblina de pó, não de orvalho.

A grama das praças ficou marrom. Não sei como estão as plantações e os rebanhos, mas imagino que devam estar sofrendo bastante também. Há notícias de que ocorreram acidentes nas estradas daqui, de Goiás e do Mato Grosso por causa do ar seco, junto com as queimadas.

O ar está pesado, ruim para se respirar. Segundo uma amiga que mora em Brasília, a coisa por lá também não está nada fácil, até mesmo porque o clima lá naturalmente é bastante seco.

Sinto que o clima, o ar, o meio-ambiente eclesiástico também apresentam tamanha sequidão. O nome de Jesus, que até há pouco tempo era central, hoje se tornou apenas mais um amuleto para de amealhar renda. A sagacidade de empresários religiosos que querem se fazer conhecidos como ministros de Deus e a sanha de gente calhorda em busca de notoriedade alcançam níveis alarmantes em nossa história recente. O conchavo, o jeitinho, o “quanto levo nessa”, se tornaram padrão nos bastidores eclesiais brasileiros. Por sua vez, há também aqueles que, alijados da notoriedade ocupada no passado, passam-se por únicos e exclusivos profetas e pregoeiros do Evangelho genuíno, gerando, com isso, um sem-número de seguidores áulicos e faltosos de capacidade de discernimento, que se alimentam de sua bile despejada Brasil afora. Há também aqueles que crêem e pregam que Deus é uma espécie de Carolina da música de Chico Buarque: o tempo passou e só Deus não viu, não agiu, não intercedeu, não exerceu Sua soberania. Como um bobalhão, ficou sentado à beira do caminho lamentando Sua impotência perante este mundo mau.

Enfim, o que há é uma sequidão. Os relacionamentos pessoais estão secos, quebradiços. O caráter de muita gente não suporta ser moldado, pois pode trincar. O relacionamento com Deus, então, resseca as vistas, a garganta, a pele.

O profeta Ezequiel demonstra, em sua profecia (Ez 37.1-15), o que realmente somos: ossos secos em um vale (Ez 37.11). A visão de ossos remete à imagem da morte, desolação, abandono. Ossos também são parte da estrutura de um corpo. A igreja de hoje está bem estruturada, com seus inúmeros departamentos, autarquias e diretorias internas; falta-lhe, porém, o fôlego de vida, para que termine essa sequidão.

É hora de clamarmos a Deus, pedirmos perdão a Ele, nos arrependermos de nossos maus caminhos. Deixar de usar o rebanho como moeda de troca eleitoreira, ou como vitrine de nossa presunção. É hora de vivermos, novamente, a vida de refrigério que Deus nos dá (Sal 23.3a), sendo guiados por Ele, e não por nossa própria carnalidade. É hora de a igreja evangélica brasileira se converter ao Senhor, e fugir de sua perene sequidão. Que Deus tenha misericórdia de nós!



Cada um por si…
29/04/2010, 7:00 pm
Filed under: igreja, Ultimato

Há dias em que nós ficamos mais sensíveis com as dificuldades de outras pessoas. Particularmente, me sinto muito sensibilizado, aflito e angustiado. Recentemente estive conversando com um amigo pastor, de denominação diferente da minha, que mora no litoral do Brasil. Ele tem passado por problemas seriíssimos de saúde, a ponto de não conseguir viver uma vida saudável. Não pode dirigir, não pode ler, não pode ficar muito tempo em pé, não pode andar. Passou por cirurgias na coluna, e precisa de mais uma. Conversando com ele, me relatou suas dores, sua via-crúcis nos hospitais de sua cidade (um problema sério para quem não dispõe de plano de saúde), a companhia de seu pai e a barra que sua esposa enfrenta com ele. Como sou muito curioso, perguntei-lhe sobre a reação de seus colegas de denominação. Sua resposta, apesar de esperada, me doeu muito. Contou-me sobre a insensibilidade, a indiferença, as pequenas, médias e grandes punhaladas que levou por parte de quem carrega o nome de Cristo.

Ao terminar a ligação, fiquei ainda mais angustiado ao me lembrar do Credo Apostólico, especialmente na parte que diz: Creio… na santa igreja católica… (católico, aqui, não significando a igreja romana, e sim no seu sentido gramatical original, já que katoliké, no grego, significa universal). Como cristão, concordo com tudo o que o Credo Apostólico diz, pois entendo ser uma espécie de resumo da fé. Mas, sinceramente, não consigo conceber o termo santa igreja católica com o meu relato com meu amigo pastor litorâneo. Entendo que santidade é muito mais do que este punhado de chavões evangélicos aos quais estamos acostumados (não beber, não fumar, não dançar, não ouvir música secular, entre outros nãos). Santidade é procurar ver o mundo, a si próprio e a Deus sob a perspectiva de Cristo. A santidade sempre se mostra relacional, e nunca isolacionista. Obviamente que, sem a ajuda de Deus, isso se torna impossível. E é por isso que dependemos tanto da Graça.

Sinto-me confuso também quando penso no segundo termo da frase, igreja. Quando me converti, há cerca de vinte e dois anos atrás, eu ainda confundia igreja denominacional (para facilitar, organização) com igreja relacional (organismo). Era mais ou menos como o lema dos mosqueteiros, um por todos e todos por um. Aos poucos, fui vendo que o lema, muitas vezes, é cada um por si e Deus por todos. O egoísmo, a competição, a deslealdade, coisas que são corriqueiras no mundo corporativo, também se tornaram corriqueiros no mundo eclesial, onde muitas vezes o ministério é confundido com carreira e deixa de ser medido pela fidelidade, passando a ser medido pelo sucesso.

Como conceber, à luz dos nossos tempos, a universalidade? Estamos cada vez mais preocupados com o que acontece com o nosso quintal, nossa paróquia, nossa congregação, nosso umbigo. O que acontece com o outro, seja do outro lado da rua ou do outro lado do planeta, não nos interessa. Terremoto no Chile? Isso é problema do governo chileno, não meu. Esquemas descobertos de facilitação de prostituição infantil? Deixe que a Polícia Federal resolva, afinal (o chavão de novo), não somos desse mundo.

Mas, apesar dessa minha angústia, ainda creio que exista uma santa igreja católica. Essa igreja não faz muito alarde de si. Ela está infiltrada nas igrejas nem tão santas assim, fazendo a diferença, sendo sal e luz. Pude ver um pouquinho do rosto dessa santa igreja católica ao ver outro pastor amigo meu socorrendo o meu amigo enfermo. De denominações, e até mesmo de teologias, diferentes, mas ainda assim caminhando juntos. Sim, creio na santa igreja católica. Essa igreja, o Corpo, está dentro das igrejas, das instituições (mas o contrário não é verdadeiro). Deus é fiel, e ainda tem um povo Seu. Ainda existem os 7000 que não se dobraram a Baal, e somos chamados a fazer parte dessa resistência. Apesar de tudo o que vemos e passamos, ainda há esperança. Ainda bem.



Aprendendo com quem menos se espera
09/02/2010, 4:03 pm
Filed under: igreja, Ultimato

Nossos tempos são complicados. Imitando o presidente Lula, nunca antes na história desse país vimos um crescimento numérico tão expressivo da igreja evangélica. Ao mesmo tempo, nunca antes na história desse país vimos tanta iniqüidade junta. Muito crente, pouco sal fora do saleiro, pouca luz iluminando a escuridão.
Prova disso é a falta de uma discussão positiva com bases cristãs a respeito do movimento gay. Algo que saia fora do já conhecido “homossexualismo é pecado” – ainda que biblicamente correto, o que isso quer dizer para o homem pós-moderno do século XXI? E como nos desvencilhar do cunho moralista que o conceito “pecado” recebeu, retornando ao seu conceito teológico original? Não podemos fechar os olhos: é um movimento que cresce a cada dia, avança sobre todos os espaços, inclusive eclesiásticos, e é politicamente incorreto apontar suas falhas – apesar deles apontarem as falhas alheias a todo momento.
Mas, ainda que o homossexualismo seja pecado (assim como o é a homofobia e também a heterofobia), será que dá para aprendermos lições positivas com o movimento gay? Será que o princípio bíblico de 1 Ts 5.21 (examinar tudo, reter o que é bom) também se aplica aqui? Creio que sim. O risco maior que corremos é encontrarmos coisas positivas que deveríamos encontrar em nossos arraiais, mas que se encontram em falta.
Por exemplo, o movimento gay é extremamente coeso. Mexeu com um deles, mexeu com todos. Prova disso são as manifestações promovidas por associações gays quando ocorrem crimes cometidos contra homossexuais. Eles podem até mesmo nem conhecer pessoalmente a vítima, mas o que importa, na visão deles, é que um do grupo foi atacado, portanto todo o grupo sofre.
Outra coisa que podemos aprender deles é a militância. Estão sempre nos jornais, revistas, TV, rádio, internet, propagando seus valores de uma sexualidade distorcida. Sempre apregoam o seu modo de vida, apresentado por eles como uma alternativa de vida válida para o nosso tempo.
E o que dizer da identificação deles? Estão sempre estimulando os gays “em potencial” a, na gíria deles, “saírem do armário”, ou seja, se assumirem como gays. Colocam a cara para fora, não se importando se os que estão à volta vão reprová-lo, pois entende que sua essência é assim, e não dá para mudar.
Coesão. Militância. Identificação. Coisas que TAMBÉM são caras a nós, cristãos. Mas, onde está a nossa coesão? Como podemos falar em unidade, quando o irmão que sofre ao meu lado, por pensar de modo diferente certas nuances teológicas secundárias, é jogado às traças? Como podemos falar em militância, quando nossas igrejas gastam milhões em reformas de templos cada vez mais suntuosos, mas gastam (quando gastam) das sobras em missões? Como falar em identidade, quando não sabemos mais se somos protestantes, neo-medievais ou pós-evangélicos?
Obviamente há as exceções, os 7000 salvos da idolatria a Baal. Mas, onde há exceção, há a confirmação da regra. Poderíamos apresentar o Evangelho ao movimento gay, mas (sempre tem um incômodo “mas”) qual deles? O da prosperidade, o do Reino, o dos sinais e maravilhas (nem tão maravilhosos assim), o das novas “unções” (o último do mercado sobrenatural é o dos quatro seres viventes), o do Leão (que não seja o do Imposto de Renda!)?
Quando o movimento gay tem aspectos positivos caros a nós, mas que não estão presentes no movimento evangélico, é hora de se parar e refletir. Será que é isso o que Jesus quer de Seu povo? Não será hora de um tempo de arrependimento, perdão e reconciliação, com o próximo e com Deus?



Torturado por um mantra
12/08/2009, 12:52 am
Filed under: Ultimato

Tem artigo novo meu lá no site da revista Ultimato. Dêem uma conferida .



Sumiço
21/07/2009, 9:05 pm
Filed under: geral, Ultimato

Dei uma sumidinha, mas é que tive uma notícia desagradável na semana que passou, que me balançou muito. Descobri que estou com diabetes. Portanto, farewell, coca-cola!
Mas, para compensar, tem texto novo meu no site da revista Ultimato. Dá uma chegada !